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Não herdamos o mundo dos nossos antepassados, é antes emprestado pelos nossos filhos.*

Imagine uma empresa onde os administradores pagam a tempo e horas aos seus trabalhadores. Que os salários, apesar de não serem muito elevados, estão acima da média praticada no país. Imagine, ainda, que esta empresa, ao longo dos tempos, foi acolhendo diversas reivindicações dos trabalhadores, nomeadamente, aumentos do subsídio de alimentação, subsídios de assiduidade, horário de trabalho reduzido, seguro de saúde premium para o trabalhador e descendentes. Imagine, igualmente, que numa dessas reivindicações, a administração assegurou que nenhum dos trabalhadores seria, alguma vez, alvo de despedimento, exceto em caso de falta muito grave e congelou novas contratações. Imagine que esta empresa, para fazer face aos custos de estrutura – salários, regalias e benefícios – começou a impedir algumas compras a fornecedores e a protelar ao máximo os pagamentos de matérias-primas. Também cortou no atendimento aos clientes, por indisponibilidade de trabalhadores, já que um quinto está constantemente de baixa médica ou ausente do trabalho por qualquer razão perfeitamente justificada. Imagine que esta empresa começou a registar muitas queixas por parte dos clientes, insatisfeitos com a qualidade do serviço, das más condições das instalações e das filas intermináveis para atendimento.

 

Um mundo ideal onde todos ganham, mas quase ninguém trabalha

Imagine, agora, que o cenário desta empresa se repetia em todas as empresas portuguesas. Ainda que os salários dos trabalhadores fossem assegurados mensalmente, a qualidade dos serviços prestados diminuía significativa e constantemente, até que algumas empresas produziam apenas uma ínfima parte do seu potencial inicial. Imagine que na sua ida ao supermercado só conseguia adquirir dois terços da sua lista de compras, por falta de stock, e que para pagar teria de passar duas ou mais horas na fila das caixas. Imagine que, ao levar a sua viatura ao mecânico, a falta de peças impedia a sua reparação durante meses. Imagine…

Este cenário imaginário, se ocorresse em Portugal, seria motivo para discussão séria do que se poderia fazer para melhorar. Qual o sentido de uma empresa existir apenas para pagar salários, quando a razão da sua existência é um determinado negócio, o qual é garantido pelos clientes ou consumidores? Aliás, até quando uma situação destas poderia durar na realidade no seio de uma empresa? Ou os acionistas assumiam um papel filantrópico até ao seu último tostão amealhado, ou pediriam ao Estado que financiasse a sua atividade.

Não existem almoços grátis. Tudo na vida tem um custo ou um preço a pagar. Pena que alguns recolham agora os lucros de atitudes imediatistas e deixem a conta para as gerações futuras pagarem.

(*) Provérbio Chinês.

 

 

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